quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Italian way of life 02

Ainda falando do modo como os italianos tratam os clientes, quando arrumei um italiano do qual fiquei amigo o suficiente pra perguntar, perguntei: "Vem cá, porque comerciantes cagam desse jeito pros consumidores?" e sabe qual foi a resposta? "Porque os comerciantes não precisam deles." Acuma???

Pois é... foi o que eu perguntei. E então veio a explicação. O que acontece é que aqui as coisas funcionam mais ou menos como nas cidadezinhas do interior do Brasil, ou melhor, funcionam como numa oficina ou num cabelereiro, só que pra tudo. Ou seja: as pessoas tem a sua padaria, a sua farmácia, o seu jornaleiro, o seu chaveiro e assim pro diante. Com isso, cada comerciante tem seu público fiel e literalmente caga para o resto. Pra ele pouco importa se eu que entrei ali pela primeira vez vou voltar ou não. Foda-se ele já tem a sua clientela e pronto.

E isso ficou muito claro outro dia pra mim.
Antes de contar a historinha, vale dizer que tem uma banca de jornal do lado da minha casa na qual eu fui umas 2 ou 3 vezes e todas as vezes fui maltratado e depois disso nunca mais voltei. Andava mais mas só ia na banca do Arabe que me tratava bem. Algum tempo depois descobri que eu e o dono da banca aqui perto moravamos no mesmo prédio, topei com ele algumas vezes no hall de entrada e trocamos alguns bom dias com ele sempre mal humorado...

Dito isso, vamos à nossa historinha de hoje:
Está saindo nas bancas daqui uma coleção que republica as principais histórias do Batman. Essa coleção vem junto com a revista Panorama (a Epoca daqui). Toda semana, junto com a revista vem um livro capa dura. Então, toda sexta feira eu passava em alguma banca no caminho de casa pra comprar a tal coleção. Acontece que sexta feira passada eu passei em 3 bancas e não achei. Nem no Arabe tinha mais. Então quando estava chegando em casa resolvi passar na banca do mal humorado. E não é que tinha. Tudo bem, comprei, paguei, fui embora e pronto. Fim de papo. Então, na outra sexta feira saí tarde do trabalho e não consegui passar em nenhuma banca. Sábado, saindo de casa, resolvi, por pura preguiça, passar na banca do mal humorado de novo e como ele estava atendendo alguém fiquei esperando (já me acostumei com o esquema monotarefa italiano) e procurando nas prateleiras pra ver se achava a coleção... e não é que o sujeito parou o que ele estava fazendo pra esse outro cliente, virou pra mim, abriu o maior sorrisão e disse:

Jornaleiro: Tá aqui dentro, eu guardei pra você.
Eu: hã?
Jornaleiro: Tá aqui ó! (pegando a panorama com o Batman debaixo do balcão)
Eu: como assim?
Jornaleiro: Recebi essa manhã e lembrei de você, então guardei uma.
Eu: errr... brigado.
Jornaleiro: Se você não passasse depois botava de volta na estante, mas como você tá comprando resolvi guardar... se quiser, guardo pra você todas as semanas, quer?
Eu: errr... pode ser. (ainda sem entender o que estava acontecendo)

Bem, paguei e fui me embora ainda estranhando toda aquela gentileza repentina... foi então que me lembrei da explicação do meu amigo italiano e me toquei que o fato de morarmos no mesmo prédio, na cabeça do jornaleiro deve ter me automaticamente me incluido na sua clientela, e assim, de um dia pro outro eu passei a ser bem tratado...

Como dizia Oblelix: Esses Romanos são uns loucos!

6 comentários:

Letrícia disse...

Ai, Angelo, só você pra me fazer rir com febre (pior é que isso faz doer a minha cabeça). Adorei suas histórias.

Beijo procê e pras minina.

el chavo disse...

Sensacional... como podem ser tão estranhos?

Cara, queria te perguntar sobre a adaptação de crianças pequenas brasileiras aí na Itália. Tenho uma de 7 anos, vc poderia me dizer como funciona, se rolou alguma dificuldade, e etc?

Abs e boa sorte!

Angelo Gabriel disse...

Fala el chavo...
Nós não tivemos problemas com as meninas, mas elas são duas e acaba que uma faz companhia pra outra. Mas tenho um amigo com filha única que teve alguns problemas de adaptação na escola.
De qualquer formaDuas dicas pra você. Primeiro: descubra se a escola tem laboratorio de linguas ou algum outro programa para inserimento de estrangeiro.
Segundo: Coloque ela na escola meio ano pra trás ao inves de meio ano pra frente. É que aqui o ano letivo vai de setembro a junho. Assim, se ela terminou a 3a série aí, coloca ela pra terminar a terceira série de novo aqui... assim ela fica mais tranquila pra se concentrar na lingua nova sem as outras matérias pra preocupar...

Espero ter ajudado.

paulobg disse...

Hahahahaha! Capitalismo do "Primeiro" Mundo comanda! Hahahaha!

Julio Lapagesse disse...

muito boa as histórias d'angelo!

abraços
juninho

Ronconi disse...

Outro dia chutei um velho na rua so pq ele tinha uma cara de culo.