Ainda falando do modo como os italianos tratam os clientes, quando arrumei um italiano do qual fiquei amigo o suficiente pra perguntar, perguntei: "Vem cá, porque comerciantes cagam desse jeito pros consumidores?" e sabe qual foi a resposta? "Porque os comerciantes não precisam deles." Acuma???
Pois é... foi o que eu perguntei. E então veio a explicação. O que acontece é que aqui as coisas funcionam mais ou menos como nas cidadezinhas do interior do Brasil, ou melhor, funcionam como numa oficina ou num cabelereiro, só que pra tudo. Ou seja: as pessoas tem a sua padaria, a sua farmácia, o seu jornaleiro, o seu chaveiro e assim pro diante. Com isso, cada comerciante tem seu público fiel e literalmente caga para o resto. Pra ele pouco importa se eu que entrei ali pela primeira vez vou voltar ou não. Foda-se ele já tem a sua clientela e pronto.
E isso ficou muito claro outro dia pra mim.
Antes de contar a historinha, vale dizer que tem uma banca de jornal do lado da minha casa na qual eu fui umas 2 ou 3 vezes e todas as vezes fui maltratado e depois disso nunca mais voltei. Andava mais mas só ia na banca do Arabe que me tratava bem. Algum tempo depois descobri que eu e o dono da banca aqui perto moravamos no mesmo prédio, topei com ele algumas vezes no hall de entrada e trocamos alguns bom dias com ele sempre mal humorado...
Dito isso, vamos à nossa historinha de hoje:
Está saindo nas bancas daqui uma coleção que republica as principais histórias do Batman. Essa coleção vem junto com a revista Panorama (a Epoca daqui). Toda semana, junto com a revista vem um livro capa dura. Então, toda sexta feira eu passava em alguma banca no caminho de casa pra comprar a tal coleção. Acontece que sexta feira passada eu passei em 3 bancas e não achei. Nem no Arabe tinha mais. Então quando estava chegando em casa resolvi passar na banca do mal humorado. E não é que tinha. Tudo bem, comprei, paguei, fui embora e pronto. Fim de papo. Então, na outra sexta feira saí tarde do trabalho e não consegui passar em nenhuma banca. Sábado, saindo de casa, resolvi, por pura preguiça, passar na banca do mal humorado de novo e como ele estava atendendo alguém fiquei esperando (já me acostumei com o esquema monotarefa italiano) e procurando nas prateleiras pra ver se achava a coleção... e não é que o sujeito parou o que ele estava fazendo pra esse outro cliente, virou pra mim, abriu o maior sorrisão e disse:
Jornaleiro: Tá aqui dentro, eu guardei pra você.
Eu: hã?
Jornaleiro: Tá aqui ó! (pegando a panorama com o Batman debaixo do balcão)
Eu: como assim?
Jornaleiro: Recebi essa manhã e lembrei de você, então guardei uma.
Eu: errr... brigado.
Jornaleiro: Se você não passasse depois botava de volta na estante, mas como você tá comprando resolvi guardar... se quiser, guardo pra você todas as semanas, quer?
Eu: errr... pode ser. (ainda sem entender o que estava acontecendo)
Bem, paguei e fui me embora ainda estranhando toda aquela gentileza repentina... foi então que me lembrei da explicação do meu amigo italiano e me toquei que o fato de morarmos no mesmo prédio, na cabeça do jornaleiro deve ter me automaticamente me incluido na sua clientela, e assim, de um dia pro outro eu passei a ser bem tratado...
Como dizia Oblelix: Esses Romanos são uns loucos!
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Italian way of life 01
Só pra vocês entenderem melhor como funciona a cabeça dos italianos. Em quase 100% das vezes que eu fui ao comércio fui mal tratado ou tratado com descaso. Uma vez, tive que esperar o atendente da banca de jornal terminar de falar com a namorada pro cara me atender, e eu só queria tirar 2 ou 3 cópias de um papel... sabe aquele esquema "desliga você, ah não, desliga você primeiro"?? Pois é... foram uns 5 minutos disso antes que a criatura se dignasse a me atender... OMas o caso mais sinistro foi assim:
Saímos a noite para um boteco com os amigos, e eu estava sem o "biglietto" pra voltar pra casa. (o biglietto é o correspondente ao vale transporte por aqui. é um ticket que você compra e depois carimba dentro do ônibus, metro ou bonde pra poder circular pela cidade) então passei numa tabacaria pra comprar um.(sim o "biglietto" é vendido em maquinas no metro, em bancas de jornal e em tabacarias). Até aí, tudo certo. Entrei na bar/tabacaria e tinha um atendente limpando o balcão pedi um biglietto pra ele e ele me disse pra falar com o outro sujeito que estava no fundo da tabacaria. Fui até lá e ele estava no meio de uma conversa com 2 outros sujeitos que estavam do lado de cá do balcão. Tentei pedir o biglietto, mas ele me fez um sinal com a mão que indicava que era pra eu esperar. Tudo bem... esperei... esperei... esperei... e enquanto esperava fiquei sabendo, nos mínimos detalhes, de todos os sofrimentos pelos quais o sujeito em questão passou quando teve um problema intestinal e teve que fazer uma lavagem seguida de uma endoscopia... a um certo ponto, me emputeci e fui embora. Quando passei pelo primeiro sujeito ele gritou pro outro, "Ei, eles queriam um "bigletto"!" e eu emendei: "É, queria, mas demorou tanto!" no que o cara lá do fundo todo putinho gritou daquele jeitão italiano alá Sopranos: "Oooou!!! Ma, acabaram de chegar!!! Pra que a pressa!!!"
O Foda, é que não achamos nada aberto, e no final tivemos que comprar a porra do "biglietto" la mesmo. Mas como não dou o braço a torcer, pedi pra uma amiga comprar pra mim... hehehe
Saímos a noite para um boteco com os amigos, e eu estava sem o "biglietto" pra voltar pra casa. (o biglietto é o correspondente ao vale transporte por aqui. é um ticket que você compra e depois carimba dentro do ônibus, metro ou bonde pra poder circular pela cidade) então passei numa tabacaria pra comprar um.(sim o "biglietto" é vendido em maquinas no metro, em bancas de jornal e em tabacarias). Até aí, tudo certo. Entrei na bar/tabacaria e tinha um atendente limpando o balcão pedi um biglietto pra ele e ele me disse pra falar com o outro sujeito que estava no fundo da tabacaria. Fui até lá e ele estava no meio de uma conversa com 2 outros sujeitos que estavam do lado de cá do balcão. Tentei pedir o biglietto, mas ele me fez um sinal com a mão que indicava que era pra eu esperar. Tudo bem... esperei... esperei... esperei... e enquanto esperava fiquei sabendo, nos mínimos detalhes, de todos os sofrimentos pelos quais o sujeito em questão passou quando teve um problema intestinal e teve que fazer uma lavagem seguida de uma endoscopia... a um certo ponto, me emputeci e fui embora. Quando passei pelo primeiro sujeito ele gritou pro outro, "Ei, eles queriam um "bigletto"!" e eu emendei: "É, queria, mas demorou tanto!" no que o cara lá do fundo todo putinho gritou daquele jeitão italiano alá Sopranos: "Oooou!!! Ma, acabaram de chegar!!! Pra que a pressa!!!"
O Foda, é que não achamos nada aberto, e no final tivemos que comprar a porra do "biglietto" la mesmo. Mas como não dou o braço a torcer, pedi pra uma amiga comprar pra mim... hehehe
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